Sob o luar da lua cheia
Uma noite clareada pela lua e as estrelas ofuscadas
Meia noite me chama pra brincar.
A gata, não a hora, pois já passa das quatro, horários trocados, insônia insistente.
Já estou a tantos meses presa na rotina pandemica que virei bicho da noite, calada e fumante, sem traquejo pra nada.
Sem fôlego e sonolenta.
Sou uma versão de mim mesma, mas sou o melhor que consigo ser agora.
Não tá bom, mas eu to viva. Isso vale muito hoje em dia.
Todo dia mais de 3 mil mortos e não existe previsão de melhora.
Não é uma tragédia, é um plano genocida em ação.
Mas você acha que eu não durmo por isso?
Nem é.
Tem dias que passso o dia inteiro angustiada, me sentindo encurralada, tem dias que não consigo levantar da cama, mas tem dias que eu danço, faço exercícios em casa, trabalho direitinho, tem dias e dias.
Mas todo dia alguém morre, não só alguém.
Mas milhares de pessoas que eram pessoas. Amadas, tinha cpf, conta pra pagar, desejos, planos, dias bons e dias ruins.
Quando eu era criança e lia sobre momentos históricos, sempre me perguntava, como as pessoas da época permitiam, e hoje eu sei que não existe poder na mão do povo, nem hoje, nem antes.
Temos o poder de várias coisas, de votar, por exemplo. De se manifestar (mais ou menos)
Mas quando o bicho tá pegando mesmo, não existe sabe, nem a possibilidade. Cadê?
Se a gente quiser poder, tem que ir lá buscar e lutar.
Nem isso a gente pode.
Que caos, que tristeza sem fim.
Mas a lua me disse que ela já viu muita coisa, enquanto muitos dormem ela observa, ilumina os que olharem pra ela com carinho e reverência, e na minha cabeça ela botou que isso vai passar.
Eu vou viver.